Reajuste da Petrobras impacta inflação, caminhoneiros e não elimina defasagem internacional
Publicada em 01/02/25 às 15:11h - 6 visualizações
Estadão
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Aumento deve ser discutido pelos caminhoneiros em assembleia no próximo dia 8, segundo líder da categoria (Foto: Werther Santana/Estadão)
Depois de um ano e um mês sem alteração, o preço do diesel produzido pela Petrobras será elevado em 6,3% a partir deste sábado, 1º, nas refinarias da empresa, em paralelo à alta do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pelos Estados, trazendo mais uma dor de cabeça para o governo.
Não apenas pelo estrago que pode fazer na inflação, mas por mexer com uma categoria que já se mostrava insatisfeita com as condições de trabalho: os caminhoneiros.
O aumento acontece em um momento em que tanto petróleo como o dólar, fatores determinantes para o reajuste, estão em baixa.
Isso, na prática, permitiria à Petrobras postergar qualquer movimento de preços.
A opção pelo reajuste valorizou as ações da companhia, que chegaram a operar com valorização próxima aos 2%.😊 As ações ordinárias (PETR3) avançaram 0,68%; as preferenciais (PETR4), 0,80%.
Para o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, “o aumento do preço do diesel pela Petrobras é um movimento positivo para as ações da empresa, pois diminui eventuais pressões no seu fluxo de caixa decorrentes da manutenção de uma defasagem de preços por um período prolongado”.
Já o BTG Pactual afirmou que a governança da empresa ainda não é perfeita, mas que também não permitiu que os preços ficassem desalinhados com o mercado internacional por muito tempo.
Segundo o banco, a defasagem em relação aos preços externos da estatal vai cair para 3%, dos 10% que o BTG projetava até o reajuste.
O Itaú BBA também citou o movimento como “positivo”.
“A decisão de reajustar o preço do diesel após a redução do preço do petróleo e do câmbio, e pouco antes do aumento do ICMS a partir de amanhã (sábado, 1º), demonstra a autonomia da empresa na execução de sua estratégia comercial”, disse a analista Monique Greco.
Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a medida é correta, mas o contexto do movimento envia sinal ruim a agentes do mercado mais atentos.
“No fundo, no fundo, da forma como aconteceu, evidencia que voltamos a ter controle de preços (de combustíveis) no País”, analisa Pires.
Ele faz referência ao fato de o reajuste ter vindo dias após uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, em que o assunto dos combustíveis teria sido abordado.
Pires observa ainda que, mesmo com o reajuste, o diesel Petrobras ainda vai ficar R$ 0,09 abaixo do preço de referência de importação, e que o reajuste tardio gera distorções ao longo da cadeia, como aumentos desmedidos pelo varejista a fim de se proteger de um novo congelamento futuro.
Inflação
Mas, se o reajuste agrada ao mercado, a preocupação com a inflação também sobe de patamar. De acordo com o economista e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas, André Braz, apesar de o impacto ser pequeno na inflação oficial, o IPCA, de apenas 0,01 ponto porcentual (p.p.), a alta do preço do combustível vai contaminar toda a economia.
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“Máquinas no campo, transporte público poderá ter um aumento maior em função disso, além dos fretes e geração de energia, que também é afetada por causa das termelétricas”, disse Braz ao Estadão/Broadcast.
Segundo ele, o reajuste de R$ 0,22 por litro de diesel nas refinarias da Petrobras deve levar a uma alta de cerca de 6% nos preços dos postos de abastecimento.
O combustível tem impacto direto de 0,23% nos orçamentos das famílias, mas será percebido em outros segmentos, explica Braz, que considera difícil calcular no momento qual seria esse impacto.
Chorão
Também para os caminhoneiros a alta do diesel é uma dor de cabeça a mais para a categoria, que terá de enfrentar um duplo reajuste, já que o ICMS terá aumento de R$ 0,06 a partir de deste sábado, 1º, nos postos de abastecimento.
Ao Estadão/Broadcast, o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o “Chorão”, disse que esperava que a Petrobras recuasse da decisão, já que tanto o petróleo como o dólar estão em queda.
Segundo ele, a pauta será discutida no próximo dia 8 pela categoria, em reunião que já estava programada, no Porto de Santos.
“Piora a vida de todo mundo, não só dos transportadores de carga, mas dos motoristas de aplicativos, de transporte escolar, da população que trabalha e produz. A gente fica muito triste e preocupado com essa situação”, avaliou.
Segundo Landim, o movimento da Petrobras reforça ainda mais o encontro dos caminhoneiros para fechar uma pauta de reivindicações da categoria ao governo.
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